domingo, 8 de março de 2009

Mãos nas Mãos


Queria olhar-te, tocar-te,

entregar-me mãos nas mãos,

sem recear a partida...

Queria amar-te um dia, uma hora,

sem as ameaças veladas...

Queria descobrir o sabor da vida,

sem ter de suportar a ameça da morte...

Queria imaginar como teriam sido

vividos os mais profundos desejos...

Queria ser capaz de te olhar

e imaginar-te sempre, aqui,

palpável,quente,real...

Queria não ter medo,

queria não chorar,

queria renovar um milagre...

segunda-feira, 3 de março de 2008

Perdido...



Procuro um lugar longe de mim,
do meu olhar cansado de não adormecer...

Preciso amordaçar a dôr e o medo,

libertar-me nos teus braços,

mesmo sabendo que pode ser o último abraço...

Sorrir nos teus lábios a côr dos meus,

amar-te sem antes nem depois,

ultrapassar-me sem ter consciência disso...
Ser Feliz sem o Pensar...

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Sinto o Tempo a esvair-se...


Este pode ser o instante último dos pensamentos

que ainda me restam…

Instante de dor consentida na mágoa

Alucinante da saudade…

Instante último de um tempo

Que não sendo meu, senti que um dia era minha pertença…

Não lhe conhecia o seu rosto,

Não imaginava os seus contornos…

A sua presença era visível na ausência…

Contudo, o hábito do novo dia,

Criava em mim a ilusão…

Não pensava o tempo a finar-se

Levando-me consigo…

Vivia numa inconsciência só geneticamente consciente…

Acreditava na Eternidade como fazendo parte dela….

Hoje, sinto a angústia das horas,

O anunciar de novas perdas…

Ausências que anunciam outras ausências…

Agora o coração chora baixinho,

Não vá o tempo acordar de mau humor…

A dor que se expande na Alma,

Uma dor cansada, rendida…

A angústia dos fins, das inexistências infindáveis…

As vozes, os rostos, os passos, os sorrisos e as lágrimas

Que partiram para sempre…

Acordo e sei que amanhã voltarei para a sua inexistência…

Hoje tenho a clarividência de saber

Que a maior parte das coisas

Que me disseram que eram as mais importantes,

Valiam menos que o mais fedorento excremento…

Hoje, mais que ontem, menos que amanhã,

Tenho a certeza que nos militarizam a mente

Durante dois terços da vida…

Mentindo-nos sobre os valores autênticos e nobres da vida…

Durante dois terços da vida enganam-nos

Com slogans publicitários de Poder, Juventude, Riqueza,

Incitando-se a requerer o ingresso no mundo dos poderosos,

Oferecendo-se o primeiro lance ainda na condição de escravos…

Um dia, de repente, convencem-nos que já não precisam de Nós,

Somos velhos, inadequados, desactualizados, inúteis…

Tecnologicamente Incapazes…

Tentam dizer-nos que o Amor é sinónimo de Pornografia…

Reduzem o valor de um beijo, de um abraço ou de um sorriso…

O valor de tudo reside na susceptibilidade de poder ser convertido em valor económico…

Os amigos de ontem, hoje são homens e mulheres de negócios sem tempo

Para investir em relações sem valor monetário…

Todas as pequenas coisas de que a vida é feita,

São coisas ridículas….

Devemos envergonhar-nos das nossas emoções…

Somos patéticos…

Lentamente, acabam por nos abandonar num lugar sem nome,

Onde nada nos é familiar…

Um lugar, onde, quantas vezes, durante a Noite nos erguemos,

Como fantasmas, procurando na escuridão os velhos interruptores…

Quantos sons pensámos ter escutado…

Por instantes, pequeninas fracções de Tempo,

Quase sentimos Esperança,

Quase podemos sentir o calor do nosso velho cão roçar as nossa frágeis pernas…

Quase Acreditamos num Milagre,

Um Milagre antes do último instante…

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

Numa tarde sem tempo...


Debruço o pensamento na tua direcção e não vislumbro o teu rosto,

algo ou alguma coisa de estranho, convence-me que exististe,

talvez, tenhas feito um gesto, talvez um som, talvez tenhas sorrido,

neste tempo onde não te reconheço nem invento uma expressão,

rasgo a neblina que te esconde, espreito em busca de um rosto,

um rosto, onde os lábios contrastem com o olhar...

Procuro um rosto que prove a nossa existência breve...

Cordilheira de Sonhos...


Quentes e melodiosos, os teus olhos flamejavam,

suspendias o pestanejar e parecias querer dominar

a eternidade dos instantes com o olhar...



Dentro dos teus olhos vagueavam sombras sem nome,

como se os teus olhos fossem tocas, esconderijos...

Havia dentro do teu olhar um pensamento, uma palavra, por dizer...



Nos teus olhos navegavam oceanos, levantavam-se tempestades,

dos teus olhos partiam e chegavam gestos sem amanhã...

Nos teus olhos ancoravam navios fantasmas
...

terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

Noite dentro da Noite...


Noite de mil Noites, dobrada sobre a madrugada,
Noite amedrontada pelo alvorecer lento e morno,
Noite cansada de não ser dia,
Noite humilhada na escuridão...
Noite perdida de si, dos seus labirintos...
Noite...

sábado, 2 de fevereiro de 2008

Dentro da Noite...

Sombras negras povoam a minha mente,
algo em mim não sou eu,
sinto uma dôr pressentida,
parece-me escutar vozes distantes...

Busco nas palavras o aconchego breve,
o calor de pensar e escrever,
neste acto único e inútil...

Cheguei ao fim das palavras,
sem articular um som...
Dentro de mim, tudo é silêncio,
um silêncio sem rosto...